A Filosofia é Insatisfeita

A Filosofia é Insatisfeita

Todos os dias nos enchemos a nós mesmos de perguntas: “Que roupa visto?“; “O que é que faço para o jantar?“; “Porque é que não fui pela outra estrada para evitar este trânsito todo?“; “Porque é que perdi a paciência?“; “O que é que me faz continuar neste trabalho que odeio?“; “O que é que posso fazer para me sentir melhor comigo mesma?“… Felizmente a lista é interminável. Felizmente, também, nem todas as perguntas que nos colocamos são de natureza filosófica. O contrário tornava o dia a dia insustentável. Mas — e ainda bem que sim — muitas das perguntas que soam baixinho na nossa cabeça possuem na sua raiz uma grande dose de questionamento filosófico.

Se há uns anos se falava em filosofia o pensamento recorria logo à imagem de velhos sábios, cabelos brancos compridos, traços de grego bem delineados. Ainda bem que esse preconceito que alia a filosofia à antiguidade e ao classicismo está a diluir-se. No entanto vamos correndo outro risco: hoje em dia parece que tudo é filosofia. Não é raro encontrar nas estantes das livrarias, reflexões sobre táticas futebolísticas ou sobre a relação entre gastronomia e bem-estar, perdidos por entre tratados políticos ou ontológicos. É claro que, na sua génese e tomado mesmo à letra, o conceito Filosofia significa amor pelo saber. Por todo o saber, claro está. Futebol e gastronomia incluídos. Mas a filosofia não procura dar respostas, resolver o dia-a-dia, tornar-se um compêndio de autoajuda. A Filosofia é insatisfeita. Ela procura sempre mais. Por isso, quando parece que chegou ao destino, descobre sempre um novo ponto de partida.

É claro que, na sua génese e tomado mesmo à letra, o conceito Filosofia significa amor pelo saber. Por todo o saber, claro está.

Mas quem disse que as respostas e as conclusões são o mais importante de uma reflexão? Usando uma metáfora já gasta, a subida a uma montanha não pode resumir-se ao gosto de estar no topo a admirar toda a planície, mas sim no apreciar de cada passo. Às vezes o essencial é perceber que o questionamento nos faz mais e melhor, mesmo que as respostas que daí advenham sejam depostas na próxima pergunta. E filosofar não escolhe idades, porque perguntar também não. Para além disso, toda a gente sabe que os maiores “perguntadores” são as crianças. De agora em diante — e com um grande sorriso — vou ter um espacinho meu por entre estas Cores todas, para dedicar à filosofia e às crianças. Um ano cheio de perguntas fecundas para todos.

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