Joaninha

Joaninha

Era uma vez uma joaninha vaidosa e toleirona. Era vermelha e enfeitava-se toda com umas pintas pretas, redondinhas.
Como era muito vaidosa, logo de manhã quando se levantava, corria para o espelho observar se as pintinhas pretas, pintadas no vermelho vivo, e que enfeitavam as suas costas, estavam no lugar. Alisava as antenas que se enrolavam durante a noite. Os olhos, meio fechados, ainda, de tanto dormir, e as bochechas também eram vistas de um lado e do outro e as patinhas finas, eram alisadas para que nada as molestasse.

Depois de se observar bem, voava até às flores – suas amigas incondicionais.
Voava quase sempre até às papoilas, que também eram vermelhas. Fazia-lhe uma certa confusão não terem as pintinhas pretas nas pétalas. As papoilas não tinham pintinhas, mas tinham dentro da corola, os estames com pintinhas nas pontas.
Claro! A joaninha vaidosa pôs-se a rir como a fazer troça das papoilas. Elas tinham as pintinhas lá dentro e não no lugar certo, pensava ela.

Era verão e o calor era muito. Um campo lindo cheio de papoilas vermelhas. A joaninha voava por cima delas muito contente.
Apareceu por ali uma abelha. Andava muito preocupada a colher o polém das flores para fazer mel.
A joaninha ainda achou mais esquisito a abelha não lhe ligar muito por causa do trabalho e não ter pintinhas nas costas.
– Olha lá, porque não és vermelha?
– Ora essa! – respondeu a abelha – Não sou joaninha!
– Só perguntei! Eu sou muito bonita. Sou vermelha e tenho pintinhas. Tu és amarela, com pelos e patas cheias de pó.
– Sou abelha. Posso não ser muito bonita, mas trabalho muito para ajudar as outras abelhas a fazer o mel que as pessoas comem no pão.

A joaninha já não ouviu a abelha. Era feia. Não lhe apetecia falar com um animal tão feio.
Andava ela toda contente a voar e mostrar às papoilas como era linda, enquanto elas riam de felizes pela visita. Quando começaram a cair umas pingas grossas de chuva.
– Mau! – pensou ela – A chover?
Abrigou-se debaixo de uma folha que encontrou ali perto. Esperou que a chuva, que entretanto caiu com mais força, passasse.
Correu aflita e molhada para casa. Foi direitinha ao espelho.
Ah! As pintas pretas tinham desaparecido com a chuva. E agora?
Uma joaninha toda vermelha, sem uma antena e as patinhas fininhas com pingos de chuva, chorava de desgosto.
– As minhas pintinhas! As minhas pintinhas!
Agora era igual às papoilas. Nem queria ver-se ao espelho!

O outono chegou e também as papoilas perderam as pétalas, voaram com o vento e ficaram feias.
Para o ano, na primavera a joaninha vai aparecer, de novo, com as pintinhas pretas desenhadas nas costas vermelhas e com a antena no lugar certo e as patinhas ainda mais bonitas.

Natércia Martins

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