Os Legumes da Dona Graça

Os Legumes da Dona Graça

Havia uma grande agitação na mercearia da Dona Graça. Tinha chegado a primavera e, como todos os anos, a Dona Graça começava a preparar tudo para expor as suas frutas e legumes cá fora, para que todos aqueles que passassem os pudessem admirar. Os morangos andavam todos vaidosos, os alhos franceses ensaiavam passos de dança e tudo estava um reboliço!

Mas havia quem estivesse muito deprimido com isso. As cebolas, que sabiam que nunca um único antepassado tinha ido para a rua, em toda a história daquela mercearia, estavam tristíssimas. Choravam sem parar.

Os nabos estavam roxos de inveja, também não costumavam ser os escolhidos, mas fingiam estar tudo bem e não se importar nada com isso:

— Lá fora a apanhar este sol? Era o que faltava… Os nabos têm de estar sempre fresquinhos!

Mas havia um nabo, um nabo ainda muito jovem, que estava cheio de pena de não poder ir para a rua ver as casas, as árvores, as pessoas. Hermínio, o nabo mais jovem daquela mercearia, queria ver o mundo! Então decidiu fazer exercício para ficar o mais bonito que conseguia. A Dona Graça iria olhar para ele, de certeza! E se bem decidiu, melhor o fez. Todos os dias, de manhãzinha, antes de a mercearia abrir, ele já tinha rebolado e saltado por todos os sítios. Ao final da tarde, quando a Dona Graça se ia embora, voltava a fazer os seus exercícios todos. Andava cansadíssimo. Os outros nabos troçavam:

— Ó Hermínio, que disparate! Um nabo lá consegue emagrecer! Um nabo tem é de ser redondinho! Passam os dias e continuas igual, redondo como uma bola!

Para além de cansado, o Hermínio começava a ficar desanimado, a força de vontade começava a ir embora. Decidiu perguntar às nêsperas, que estavam ali mesmo ao lado, se notavam alguma diferença. Elas entreolharam-se e, não querendo magoar o Hermínio, encontraram uma solução:

— Pergunta às cenouras, que elas é que veem bem! — e suspiraram de alívio.

Hermínio lá foi e as cenouras diziam todas que não viam diferença nenhuma. O nabo estava cada vez mais cabisbaixo, quando uma das cenouras levantou a voz e disse:
— Vocês não estão a olhar com atenção! Então não se nota logo? O Hermínio está muito mais elegante, e até a cor dele ficou mais reluzente! Acho que está muito mais bonito!

O Hermínio rebolou feliz pela mercearia fora. Afinal tinha valido a pena!

Ora vamos lá! Pensar com calma faz bem à alma!

— Achas que a cenoura mentiu?

— O que é uma mentira?

— Devemos dizer sempre a verdade?

— Há alturas em que se justifica mentir? Porquê?

— Achas que a cenoura ajudou realmente o nabo?

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