E tu? Também és um líder copy / paste?

E tu? Também és um líder copy / paste?

Assumir um cargo de liderança é um dos acontecimentos mais impactantes na vida de uma pessoa.  Para a grande maioria dos novos líderes, esta transição representa medo, dúvida e muitas “amolgadelas” na autoestima.

  • “Será que serei capaz?”
  • “Onde é que eles estavam com a cabeça para me promoverem?”
  • “Vou começar a expor-me e não estou preparado para ser o centro das atenções”

Com tantas incertezas a “bater à porta” destes novos lideres, há um erro comum que muitos tendem a cometer: copiar o modelo de chefia de outras pessoas. Ou porque essas pessoas são carismáticas, ou porque os seus subordinados as consideram bons profissionais, ou por desorientação e desconhecimento de quais as características fundamentais que um líder deve ter.

Por muito fácil que possa parecer imitar o estilo de liderança de outros líderes, este não é o caminho mais seguro. E porquê?

Porque os outros são os outros e tu és tu. Basicamente, os outros têm a sua personalidade, as suas capacidades, os seus exemplos, a sua história, as suas experiências e também aquela coisa estranha chamada “percurso de vida”. Aquilo que os outros viveram, tu não viveste. Isso, só por si, já te distancia, e muito, daquela pessoa.

Então mas imitar quem é bom não deveria ser uma virtude?”, pensas tu.

Calma. Não há mal nenhum em ires buscar exemplos de outros líderes e entender se aquilo que eles personificam tem a ver contigo e com os teus valores como pessoa e como profissional. Se quiseres ganhar o respeito dos teus pares, dos teus superiores e dos teus subordinados, terás de te manter fiel a ti mesmo. Qualquer síndroma do impostor não resulta durante muito tempo porque aquela personagem não és tu.

Para te tornares num bom líder, não tens de assumir uma nova persona. Tens de pegar no teu “eu”, desenvolver as capacidades que estejam mais adormecidas e enaltecer aquelas que já são excelentes. Sempre com base na tua genuinidade, na tua originalidade e nos teus valores.

Como faço isso?”, perguntas.

Não te posso dizer que o processo é fácil, mas é possível. Tu não tens de ser um líder copy / paste de ninguém.

Primeiro, é importante que te conheças. Sem vícios de subterfúgios ou estratagemas de vitimização ou auto-ludibruição. Analisa os teus pontos fortes e fracos, as coisas que gostavas de desenvolver em ti, assume as tuas lacunas e carências, o mais sinceramente possível.

O quadro com que ficas após esta análise é o teu ponto de partida na senda do teu progresso. Chamemos-lhe “road map”. Este mapa tem já o teu ponto de partida e, por isso, estás de parabéns. Conseguiste o que muitas pessoas não conseguem ou se autobloqueiam para conseguir: a casa-partida para o teu voo maior chamado Liderança Consciente.

O segundo passo é a interacção com os outros. Sejamos francos: nenhum líder isolado, fechado e distante dos seus colaboradores transmite segurança ou empatia e não terá, certamente, muitos fieis seguidores.

Se, na tua essência, não és uma pessoa que saiba comunicar, ouvir, conciliar, estimular o diálogo, construir redes de várias vozes, terás de desenvolver esta tua lacuna. O impacto que vais ter nas outras pessoas será tão mais positivo quanto estiver desenvolvida a tua capacidade inter-relacional.

E aqui, uma vez mais, terás de ser tu mesmo. Não tens de passar a dar “high-fives” a todas as pessoas com que te cruzas no corredor, nem passar a ser a pessoa mais extrovertida das reuniões quando, na tua essência, és introvertido e envergonhado. Imitar aquele executivo que tu conheces e que transmite com tanta facilidade as suas emoções quando tu mesmo morres de medo ao fazê-lo é suicídio social. Como diz o provérbio: “nem oito, nem oitenta”. Usa a tua personalidade em teu benefício e “lima aquelas arestas” que precisas de aperfeiçoar.

  • Nunca foste bom orador? Inscreve-te num curso de oratória e condução de reuniões.
  • Tens dificuldades de relacionamento? Pede a ajuda de um Coach, que te apoiará nesse processo.
  • Gostavas de ser mais extrovertido? Junta-te a um grupo de teatro.

Há tantas formas de aumentares o teu potencial de relacionamento interpessoal e ninguém melhor do que tu mesmo para escolher aquelas que resultam contigo.

O terceiro e último passo é a modéstia. Quem é que tu queres que brilhe neste teu novo desafio profissional? Se a tua resposta for “Eu”, estás a começar com  o pé errado. Quem tem de brilhar neste processo é a tua equipa.

O líder deve trazer à tona o melhor de cada membro da sua equipa e desenvolver esforços para se tornar dispensável. Parece uma contradição, não é? Seres um líder que anseia por ser invisível.

Pensa comigo: uma equipa motivada é mais eficiente. É mais criativa, sugere mais, envolve-se, busca novos conhecimentos, mostra as suas habilidades.

Se tu, como líder, souberes fazer a tua equipa brilhar, seja na forma como lhes delegas tarefas importantes e cruciais para o vosso departamento, seja na sugestão dos seus nomes para projetos em que estejas envolvido com os teus pares ou superiores, serás cada vez mais respeitado, valorizado e sentir-te-às mais autoconfiante e profissionalmente feliz. Tu e a tua equipa são um todo, mas a tua equipa tem de saber guiar o barco para a frente sem ti. Isso sim, demonstra que o teu barco é bem comandado e que partilhas o leme com pessoas tão competentes quanto tu.

Lembra-te também que reconhecer que não sabes tudo e que tens muito a aprender com a tua equipa e com os teus pares não faz de ti um ser inferior ou incompetente. Demonstra a tua grandeza em querer ser melhor, aprendendo com os outros e essa é uma sabedoria que poucas pessoas desenvolvem na liderança recente.

E agora, só te resta ser único, não imitar ninguém, não copiar atitudes e fazer aquilo que ainda ninguém fez. Atreve-te na tua singularidade. Define as tuas prioridades, envolve as tuas pessoas, motiva o teu grupo, projecta o teu plano. No teu percurso, de mapa na mão, vais cair, saltar, parar, mudar de direcção, tentar uma vez e outras mil mais e durante o caminho vais aprender, passo a passo, a ser um líder cada vez melhor. Genuíno, verdadeiro e natural. Uno, imperfeito e autêntico. Sem copy/paste.

Carla Soares

Coach Transformacional e autora do Programa Emeritus de Coaching Pós-Carreira e do Programa Icarus para Novos Líderes

www.coachcarlasoares.com

Spread the love