– Nhe-nhe-nhe banana foi um nhe-nhe-cóptero meu?
A minha atenção fixou-se no meu filho e, durante 3 segundos, tentei decifrar o que ele tinha acabado de dizer por detrás do pequeno-almoço meio mastigado.
– Filho, mastiga primeiro e fala depois.
Tentei sossegar a minha curiosidade enquanto os pequenos maxilares trituravam – muito vagarosamente – o pão com doce que lhe tinha preparado.
– Diz lá agora, filho. – Enquanto eu fazia agora um fino olhar de concentração, para ter a certeza do que estava a ouvir.
– Sabes que a banana foi um helicóptero meu?
Com um significado não menos críptico, ao menos agora tinha conseguido perceber todas as palavras.
– Se eu sei que a banana foi um helicóptero teu? – Repeti, para ter a certeza de que estava a ouvir bem.
– Siiiiim!
Aceitei a pequena pérola de conhecimento que tinha acabado de ouvir e confirmei-lhe que, de facto, não sabia.
Muito além do misterioso significado, ficou a satisfação no meu filho em ter-me ensinado algo. (Obrigado, filho.)
Muito além da mensagem em si, há aqui um conjunto de coisas que (para mim) são componente essencial da criação da personalidade (neste caso, de uma criança). O meu filho, a determinada altura, quis passar uma mensagem. Real ou não, pouco importa. O que considero relevante é que, se eu recebi essa mensagem, que a confirme. Quando o faço, estou a dar valor ao que o meu filho me está a dizer. Se, para o meu filho, aquela banana foi um dia um helicóptero, é discutível (mas noutro contexto). Se calhar, vou acabar por debater critérios aerodinâmicos de uma banana mas, mais uma vez, se o fizer, estou a validar a sanidade de comunicação do meu filho (vamos esquecer por uns momentos que ainda estamos a falar de bananacópteros).
Quando falamos, a nossa intenção de comunicar vem do mais profundo desconforto de que possuímos um pedaço de conhecimento e não queremos que ele morra sozinho dentro de nós (mesmo que sejam apenas bananacópteros). Isto implica que, quando falamos, se não formos ouvidos, a intenção inicial não foi conseguida. Foi como se não tivessemos dito nada. No entanto, além dos estigmas de falta de confiança por termos sido ignorados em primeiro lugar, na verdade o ímpeto ainda está lá. Dito de outra forma, a nossa capacidade de ouvir, interfere directamente sobre a pessoa que está a falar contigo.
Se uma arvore cair numa floresta e não estiver lá ninguém para ouvir, será que ela fez barulho ao cair?
Por isso, ouve. E confirma o que ouviste (não a sua verdade). Não debatas que ouviste, mas o que ouviste. Quando o fazes, estás a fazer parte da comunicação. E, não achas fantástico que possas fazer parte do acto de comunicar, apenas a ouvir o outro?
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