Viagens para que vos quero!

Viagens para que vos quero!

Conseguem imaginar-se a ler muitos livros ao mesmo tempo, absorvendo cada parágrafo, sem perder uma vírgula?

Pois…..à primeira vista, parece algo irrealizável! Mas agora vejam-se viajantes e pensem o que conseguem absorver, sem qualquer esforço, em cada viagem que realizam. Claro que esta é uma vez mais, a minha singela opinião, mas estou em crer, que o dinheiro que gastamos em viagens, é sem dúvida o melhor investimento que fazemos por nós, para nós!

Há-as para todos os gostos, ora vejam:

Viajamos em trabalho

Viajamos em lazer

Viajamos para estudar

Viajamos ao nosso interior

Viajamos para fugir de nós

Viajamos para longe

Viajamos para perto

Viajamos até, sem sair do sofá, à boleia de livros, de filmes, de conversas….

Viajamos para a praia, para o campo, para a cidade

Viajamos em grupo, em família ou sozinhos

Viajamos de mala cheia

Viajamos de mochila

Viajamos para locais turísticos

Viajamos para zonas recônditas

Viajamos para escapar da guerra

Não cresci com viagens, confesso-vos. No meu tempo de menina, a ida ‘à terra´, já era uma aventura, luxo anual, inevitavelmente no populoso mês de agosto, carregados de malas, numa viagem interminável de comboio Por ironia, era precisamente o mês em que o nevoeiro matinal, se instalava nas férias da gente, mas não havia volta, era em agosto que tínhamos férias e o resto, bem, o resto, era má sorte!

Já estava bem crescida, quando apareceu o primeiro carro da família, um simpático  ‘carocha’ que a minha Mãe tentava atafulhar antes de cada viagem, enquanto o meu Pai respingava ruidosamente. Nesta altura conseguíamos enfiar as malas, os sacos, os saquinhos e ainda o Pai, a Mãe, a Avó, o Avô, eu o mano tudo no mesmo carro! Hoje tudo isto seria impensável, eu sei! Doces recordações e que feliz eu sou, por as ter!

Já que estamos em maré de confissões, também vos digo, precisei de casar, para ter como prenda, uma viagem até ao Algarve. Hoje, rimos destas aventuras, mas em tempos, foi assim!

E quantos não viajavam com frasco de champô de litro, para passar um simples fim-de-semana?

Vivemos tempos de mudança. Velocidades alucinantes, que nos deixam confusos, veja-se o Brexit, a tomada do poder por gente fundamentalista e faciosa. O Medio Oriente continua a ferver, sem água, basta-lhe o petróleo. O êxodo de migrantes em busca do El Dourado da paz. Aliás somos feitos de mudanças, mas assobiamos para o lado, na esperança de nos mantermos quietos no mesmo sítio. Queremos saber o dia de amanhã. Queremos controlar, queremos estar confortáveis na vida, mas isso é impossível.

Por questões básicas de sobrevivência e a julgar por registos que nos têm chegado, a raça humana durante muitos e muitos anos, era, à semelhança de outros animais, nómada. Com a descoberta do fogo e da roda e o desenvolvimento de alguns utensílios, o Homem começou a dominar outras espécies e com isso, conseguiu fixar-se, cada vez por períodos mais longos e assim, foi-se tornando sedentário e viajar, era uma tarefa desgastante, que obrigavam a uma logística diabólica.

Hoje assistimos de novo a uma mudança de paradigma! A procura de melhores condições de vida e a oferta de viagens mais fáceis e economicamente acessíveis, leva a uma constante movimentação das populações, não só dentro do seu país, mas também, e cada vez mais entre diferentes países. Não há fronteiras para procurarmos novas oportunidades. Veja-se o exemplo dos estudantes de Erasmus, ou os trabalhadores que optam por exercer a sua profissão fora do seu país de origem, ou os casais formados por pessoas de diferentes nacionalidades.

Muitos empregadores, valorizam o facto de um candidato viajar e acima de tudo, planear as viagens.

Por estes dias, os aeroportos, são locais de uma crescente e fervilhante atividade de vaivém.

É certo que paira sobre as nossas cabeças o espectro do terrorismo, numa tentativa de castrar a nossa forma de vida, mas o mundo já deu provas que consegue superar este terror e ainda bem!

Regressei há dias de Londres e sinto uma enorme gratidão por ter tido esta oportunidade. Voltar a esta cidade 17 anos depois, foi uma experiência fabulosa. Guardava dela recordações que percebi agora, estavam intactas! Estar presente em tantos lugares emblemáticos, dá-me uma excitação acrescida. Gosto da diversidade de gentes. Gosto de me sentar numa qualquer praça e observar o corrupio, de escutar a imensidão de línguas diferentes, o colorido das raças, dos hábitos, tudo numa sintonia perfeita. Sabem quantas estações de metro, por sinal, o mais antigo do mundo (1863), tem a cidade? 270!

Gosto de cidades cosmopolitas, perco-me de amores pelas ruas, pelos mercados, pelos artistas espontâneos. Visitar esta cidade deveria ser um direito de todos. É um mundo dentro do mundo. Mais de 300 raças diferentes, numa harmonia que me fascina. Vi tolerância, vi respeito e acredito que o ser humano seja por natureza assim mesmo, tolerante. Infelizmente os media teimam em incendiar opiniões, a moldar comportamentos em nome de interesses, algo obscuros e obtusos! Precisamos ver para além do que nos impingem e sermos Nós. Sou feliz junto de pessoas e quero lá saber o seu credo ou religião, então porque me querem fazer acreditar, que vivemos num mar de racistas e xenófobos?

Também vos quero dizer, que viajar no nosso Portugal é delicioso. Temos um país pequeno, mas enorme na diversidade de ofertas. Escrevo este texto, num lugar simplesmente encantador, Odeceixe, já Algarve, mas ainda com cheiro a Alentejo. A Ribeira de Seixe, a praia, a alvura do casario encosta abaixo e que se estende até ao mar, em suaves socalcos, os barzinhos pitorescos, o chilrear alegre dos pássaros, o canto das rolas…..digo-vos do coração, apareçam, vão adorar! Não vos quero estragar a surpresa, mas não percam o pôr-do-sol, por favor! E acredito piamente, que poucos portugueses conhecem este pedaço de paraíso e no entanto, há alemães, franceses e espanhóis que há muito desfrutam desta beleza arrebatadoramente natural!

Há até um barzinho delicioso, sobranceiro à ribeira e à imensidão do oceano, propriedade de um espanhol de San Sebastian, que se perdeu de amores por estas paisagens e largou tudo, para aqui se fixar e acreditem, San Sebastian é deslumbrante…

Tenho-me apaixonado, por grande parte dos lugares que já visitei e ainda bem. Fica sempre aquela vontade de voltar, mas depois pensa-se: oh pá, mas se há tantos sítios novos para visitar, porque vou repetir? Enfim, decisões difíceis!

Em cada regresso, voltamos mais ricos, juntamos vidas à nossa vida, trazemos muitas histórias e recordações que se colam para sempre a nós.

Viajar é muito mais do que a viagem, é o planeamento, é a gestão de expetativas, é excitação, é sair da nossa zona de conforto, é falar outras línguas, é alargar os nossos horizontes. É comunicar tantas vezes por gestos e ainda assim ser entendido. É sair da rotina. É encontrar portugueses em qualquer cantinho do planeta!

Viver confinados a um lugar, torna-nos destorcedores do mundo, ficamos limitados. E já agora, quem nos garante que a nossa alma gémea, a verdadeira, não está a uns milhares de quilómetros? E afinal quantas teremos, neste imenso universo?

Gostava de viajar mundo fora, até encontrar algures um cantinho, onde pudesse andar de chinelos e calções todo o ano e lá, seja onde for, partilhar tudo o que já aprendi e vivi. Um sonho que talvez realize, pelo menos vou acreditar!

Tenho tantas boas recordações! Como poderei esquecer, por exemplo, o sol da meia-noite? Ou a visita a um glaciar? Ou o mar de água quente e verde-esmeralda da Riviera Maia? Ou a subida à Torre Eiffel?

Não imaginam o prazer que sinto, quando falo de viagens, uma excitação sem igual!

Sentir que sou parte deste TODO, faz-me ter vontade de partir, mal acabo de chegar. E a resistência que tenho em desfazer a mala? Nem vos digo!

É um vício que toma conta de nós e não mais nos abandona.

Mapa numa mão, GPS na outra, coração ao saltos e estamos prontos para a descoberta!

– O que gostas de fazer?

– Viajar!

– E o que fazes quando não estás a viajar?

– Planeio a próxima viagem! Glasgow, Edimburgo, Acapulco, Tailândia, Camboja, Vietnam….Ilhas Gregas…
É que as viagens entram por nos adentro e nunca mais saem!

Paula Castanheira (Texto)
Ângela Rego (Foto)

Spread the love