Porquinho

Porquinho

Em cima do armário do corredor havia algumas peças, que no dizer da minha avó, não tinham utilidade.

Um porco de lata vermelha, pequeno e uma ranhura no lombo. Ao lado um galo de Barcelos, colorido e petulante, o franganote.

O porco ficava contente quando uma moeda caía na sua já gorda barriga. Era um mealheiro. Nem todos os dias havia moedas. O galo irritava-se com esse tilintar. Afinal não se entendiam.

O porco vermelho e focinho arrebitado e uns olhitos sem pestanas olhava sempre para a porta da entrada. Olhava a ver se quem entrava lhe trazia a esperada moedita.

Por sua vez o galo tinha bico pintado de amarelo, corações nas asas e penas coloridas na barriga.

O porco gozava com ele. Já se viu alguma vez um galo ter corações pintados nas asas? O bico pintado de amarelo, os olhos pintados de preto e as marmilas pintadas de vermelho, penduradas do pescoço. Que ridículo!

E era ridículo o galo.

Discutiam quando o porco arrecadava a moeda e discutiam, também, quando o galito se empertigava a fazer-se grande. Mas não passava de um galito de barro pintado.

Um dia um dos netos passou e disse:

– Quando o porco estiver cheio compro umas sapatilhas e o galo já está velho e desbotado vai para o lixo.

Eles que passavam o dia à zaragata, porque um era gordo e o outro de barro pintado, olharam um para o outro aflitos.

– Que sorte a nossa!

– A tua, disse o galo. Eu vou dar uma volta até ao lixo. Estou velho e desbotado. Enquanto tu guardas as moedas.

– O porco também lhe disse:

– Afinal nunca nos entendemos mas fomos felizes aqui.

O porco e o galito ainda lá estão.

O porco ainda não está cheio e o galito ainda tem um pouco de cor.

Os netos vão muito menos a casa da avó e as moedas também cada vez vão caindo menos.

Mas o porco e o galo continuam a discutir. Continuam a não se entender. O porco continua gordo e o galo continua de barro e com as cores cada vez mais desbotadas.

Natércia Martins

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